Ron Mueck na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Exposição Ron Mueck.

Não sei se isso acontece com vocês que também viajam mundo afora. Mas eu conheço mais os museus localizados fora do Brasil do que aqueles que estão aqui pertinho de nós.

Lembro de ter ido uma vez ao Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, quando era criança, em uma excursão escolar. Depois disso, somente agora, no final de 2014, quando fomos ao Instituto Ricardo Brennand, em Recife.

Mas eis que chegou a vez de conhecer um pouco de nossa cultura. Só que não. Nossa ida até a Pinacoteca do Estado de São Paulo não foi motivada pelo seu acervo nacional, e sim pela exposição das obras do australiano Ron Mueck.

Mas quem é Ron Mueck?

Ron Mueck é um artista australiano que mora em Londres, filho de uma família alemã fabricante de brinquedos, e iniciou suas produções artísticas em 1990.

Aberta ao público desde novembro de 2014, a exposição apresenta nove esculturas de Ron Mueck. Eu já tinha visto as obras do artista pela internet, e fiquei entusiasmado com a possibilidade de vê-las pessoalmente. Assim que foi anunciada a temporada em São Paulo, já combinei com a Patroa que nós iríamos. Um casal amigo nosso também se interessou e ficamos de agendar a melhor data.

Esse nosso amigo precisou fazer uma cirurgia no olho, então postergamos a visita para 2015, até sua plena recuperação, e escolhemos o final de semana anterior ao Carnaval. O passeio também seria o presente de aniversário de nossa sobrinha, que nunca havia ido a um museu antes.

Entre chegar e entrar, um longo intervalo

Dia 08/02 – 11h. Esse foi o dia e horário combinado para nos encontrarmos. Infelizmente, por um problema familiar, nosso casal de amigos não pode ir conosco. Alertado por um colega, partimos mais cedo para São Paulo, pois ele nos disse que a fila para ver a exposição estava imensa.

Nós chegamos na Pinacoteca, no final da fila para ser mais preciso, às 10h10min. A fila dobrava o quarteirão. Imensa. Gigante! Havia duas filas: uma para quem iria visitar a Pinacoteca apenas (quadros e demais itens do acervo) e outra para quem iria visitar a área reservada para a exposição de Ron Mueck.

A edificação da Pinacoteca por si só já vale a visita.

Cartazes divulgando as exposições correntes.

A cada dez ou quinze minutos a fila andava uns dois metros. Até certo momento havia a sombra de algumas poucas árvores. Depois foi sol na cabeça o tempo todo. Havia vendedores de água natural, água de coco, açaí, sorvete, fatias de abacaxi ou melancia, salgadinhos, e um tiozinho que vendia guarda-chuva anunciando como guarda-sol.

Fiquei com dó de minha sobrinha. Nós sabíamos que haveria fila, e imaginamos entre uma e duas horas de espera, mas ficamos ali, naquele anda um pouquinho, para um montão, por quase quatro horas!

Fachada da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Quando finalmente entramos na Pinacoteca, após a compra dos ingressos que só eram vendidos presencialmente e na hora da visitação, ainda encaramos uma pequenina fila onde uma funcionária nos passou algumas orientações.

A exposição de Ron Mueck na Pinacoteca

A primeira escultura em exposição não é a primeira que deve ser visitada, isto porque a porta de entrada dá na Sala 2. Na primeira sala está uma das mais divulgadas, senão a mais divulgada, obra de Ron Mueck: Mask II [2001/2002].

Mask II - autorretrato de Ron Mueck. — Mask II – autorretrato de Ron Mueck.

A máscara é um autorretrato do artista, em dimensões ampliadas. Eu não imaginava que era uma máscara, uma coisa “oca”. Achava que era um cabeção. Mueck explica que ele não poderia fazer uma cabeça decapitada do corpo. Seria algo incompleto. E uma máscara, por si só, já é completa. Interessante.

Por esse ângulo percebe-se tratar-se de uma máscara mesmo.

A segunda arte exposta chamava-se Drift [2009], ou À deriva.

É uma escultura em tamanho reduzido, de um homem deitado em um colchão inflável, daqueles que se leva para a piscina. usando calção e óculos escuros, e um relógio de pulso.

A sensação de que o homem está boiando deve-se ao tom azul da parede. Isso mesmo: da parede. A obra fica na vertical, pendurada na parede. A riqueza de detalhes é impressionante. Os pés, a musculatura, o relógio no pulso…

A terceira sala exibe duas obras em tamanho reduzido. Na primeira delas, a Young Couple [2013] (Jovem Casal), temos a impressão de que as roupas dos personagens são de pano mesmo. É fantástica a riqueza de detalhes.

Esta obra, assim como as demais, porém de maneira um pouco mais surpreendente, nos leva a interpretações distintas quando vista por ângulos diferentes. Neste caso, principalmente quando a vemos por trás, reparando nas mãos do casal.

O Jovem Casal. As roupas parecem ser feitas de tecido.

Analise a expressão facial dos jovens e depois suas mãos, na parte de trás.

E não é que eu esqueci de fotografar as mãos?!? Bom, deixarei vocês imaginando o que há por trás deste casal.

Brincadeira. No final desta postagem você verá uma foto do Blog da Cams com as mãos do casal.

A outra escultura desta sala é de uma mulher voltando de um supermercado, carregando suas compras em ambas as mãos, e um bebê de forma criativa. O nome é Woman with Shopping [2013] (Mulher com as compras). As roupas também parecem reais, e chama a atenção a falta de afetividade entre ambos.

Nenhuma expressão de ternura no rosto da mulher.

Na sala seguinte, uma escultura um tanto…, como posso dizer? Horripilante? Sill Life [2009], a verdadeira Natureza morta. Um frango morto, com um corte no pescoço, pendurado pelos pés amarrados, totalmente depenado. Detalhe: é gigante!

Natureza morta. Esse frangão morto dá má impressão.

O detalhismo da obra vai até no líquido que escorre pelo bico do frango.

Na quinta sala estão expostas a sexta e sétima esculturas de Ron Mueck. Uma delas, a Woman with Sticks [2009] (Mulher com Galhos), apresenta a miniatura de uma mulher nua, aparentemente com sobrepeso, fazendo esforço para carregar os galhos, tanto que seu corpo se inclina para trás.

A outra obra, Youth [2009] (Juventude), retrata a miniatura de um jovem negro, exibindo um corte em suas costelas, porém sem face de dor ou raiva.

A expressão do jovem é mais de surpresa do que de dor.

Na penúltima sala está em exposição uma escultura de um homem em tamanho reduzido, nu, sentado em uma canoa de tamanho real, olhando desconfiado para algo que está a sua frente. A obra se chama Man in a Boat [2002] (Homem em um barco).

Além do tamanho do homem ser reduzido, o bote é em tamanho real.

Na última sala estava sendo exibido um filme chamado Natureza Morta: Ron Mueck trabalhando, onde podemos observar o artista em processo de criação, no vagaroso trabalho de manipulação dos materiais até obterem a forma completa da obra.

Filme mostrando como Ron Mueck cria suas obras.

Se você contou as obras, está faltando uma, das nove obras em exposição. A obra Couple under an Umbrella [2013] (Casal debaixo do guada-sol) é a única obra de Ron Mueck que fica em uma área comum da Pinacoteca, no Octógono, onde todos podem vê-la, tendo ficado três horas na fila ou apenas alguns minutos.

Casal debaixo do guarda-sol, a maior obra em exposição.

Saindo da área exclusiva da exposição, fomos ver a peça que faltava. E ela surpreende pelo tamanho (é a maior das nove em exposição) e pelo detalhismo em sua criação. O braço do homem em contato com o braço da mulher, a aliança no dedo da mulher, os pés, os pelos… Impressionante!

A obra estava exposta no Octógono, onde todos os visitantes podiam vê-la.

Ron Mueck não deixa passar nenhum detalhe.

Pois bem, terminada a visitação na exposição de Ron Mueck, seguimos direto para a lanchonete da Pinacoteca para comer algo. Havia alguns salgados, lanches naturais, e alguns pratos quentes e saladas. Depois de tanto tempo sem comer, a fome nem era tanta, e ficamos no lanche mesmo.

Apesar de cansados, aproveitamos que já estávamos ali e fomos visitar as demais salas da Pinacoteca, conhecendo algumas telas de pintores brasileiros e cenas cotidianas de nosso país. A que mais me surpreendeu foi a obra de Tiradentes esquartejado.